Síndrome de Down e cardiopatias congênitas: o que os pais precisam saber desde o início

Quando recebemos o diagnóstico de Síndrome de Down — ou Trissomia do 21 — de um bebê, uma das primeiras áreas da saúde que precisa de atenção é o coração. Isso porque cerca de 40% a 50% das crianças com T21 nascem com algum tipo de cardiopatia congênita.

Esse percentual é consideravelmente mais alto do que na população geral, onde a prevalência é de apenas 1%.

Em outras palavras: para cada dois bebês com Síndrome de Down, um terá alguma alteração estrutural no coração.

Esse dado pode assustar em um primeiro momento, mas também reforça a importância do diagnóstico precoce, do acompanhamento adequado e, quando necessário, da intervenção cirúrgica no tempo certo.

Síndrome de Down e cardiopatias: a importância da triagem precoce

O primeiro exame a ser feito, ainda nas primeiras 24 a 48 horas de vida, é o teste do coraçãozinho.

Ele faz parte da triagem neonatal obrigatória em maternidades públicas e privadas no Brasil e ajuda a identificar cardiopatias congênitas graves.

No entanto, é importante saber que muitos bebês com cardiopatias leves — e até moderadas — podem apresentar resultado normal nesse teste.

Por isso, mesmo sem sopros cardíacos, todo bebê com T21 deve realizar um ecocardiograma.

Esse exame oferece uma avaliação detalhada da estrutura cardíaca.

O ideal é que o ecocardiograma seja feito ainda na maternidade, mas, caso isso não seja possível, deve ser agendado o quanto antes após a alta hospitalar.

Quais são as cardiopatias mais comuns na Síndrome de Down

Entre as cardiopatias mais frequentes em bebês com Síndrome de Down, o defeito do septo atrioventricular (DSAV) lidera, presente em cerca de 40% dos casos.

Em seguida, vêm a comunicação interventricular (CIV), com 30%, e a comunicação interatrial (CIA), entre 10% e 15%.

Outras condições menos comuns incluem a tetralogia de Fallot (5%), além de alterações em válvulas cardíacas ou estreitamentos em vasos sanguíneos.

Cada uma dessas cardiopatias tem impacto diferente no organismo e exige condutas específicas.

Sintomas que merecem atenção dos pais

Alguns sinais podem levantar suspeitas e devem ser observados de perto:

  • dificuldade para ganhar peso;
  • respiração acelerada;
  • esforço ao respirar;
  • cansaço durante as mamadas;
  • infecções respiratórias frequentes.

Em bebês com T21, esses quadros podem estar relacionados a problemas cardíacos subjacentes e precisam de investigação médica.

Síndrome de Down e cardiopatias: tratamentos possíveis

O tratamento depende do tipo e da gravidade da cardiopatia.

Em casos mais leves, o acompanhamento clínico pode ser suficiente, já que alguns defeitos podem se fechar espontaneamente com o crescimento.

Em outras situações, são indicadas medicações de suporte — como diuréticos ou remédios que ajudam na função cardíaca.

Já nos casos mais complexos, a cirurgia cardíaca se torna necessária, geralmente no primeiro ano de vida.

Avanços da cirurgia cardíaca em crianças com Síndrome de Down

A cirurgia consiste, na maioria das vezes, em uma incisão no tórax com o uso de circulação extracorpórea, que mantém o sangue oxigenado enquanto o coração é corrigido.

O tempo do procedimento e da recuperação varia conforme o tipo de cardiopatia, as condições clínicas do bebê e a complexidade da cirurgia.

Graças aos avanços da cirurgia cardíaca pediátrica, os resultados hoje são muito positivos.

Crianças com Síndrome de Down que passam pela correção adequada podem ter expectativa de vida semelhante à da população geral, desde que mantenham o acompanhamento regular.

O acompanhamento ao longo da vida

Mesmo após a cirurgia, os cuidados não terminam.

O acompanhamento cardiológico precisa ser mantido na infância, na adolescência e também na vida adulta.

Além disso, contar com profissionais que tenham experiência em Síndrome de Down e cardiopatias garante uma visão mais ampla e integrada da saúde da criança.

Com o passar do tempo, é igualmente importante monitorar fatores de risco cardiovasculares comuns a toda a população, como pressão arterial, colesterol, peso corporal e hábitos de vida.

Informação que traz esperança

Falar sobre cardiopatias congênitas pode gerar medo — e eu entendo.

Mas acredito que conhecimento e informação são aliados poderosos para transformar o medo em ação.

Diagnosticar cedo, cuidar com atenção e manter o acompanhamento contínuo fazem toda a diferença.

O coração da criança com T21 merece cuidado, mas também merece esperança. E, com o suporte certo, pode bater forte e saudável por muitos e muitos anos.

Leitura Recomendada: Síndrome de Down e educação inclusiva: a exclusão que ainda persiste nas escolas

Dra. Amanda Ferreira de Paula
Médica de Família e Comunidade, especialista em Síndrome de Down
(CRM ES 15.515 | RQE 15.314)

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Dra. Amanda de Paula
Dra. Amanda de Paula

Dra. Amanda de Paula é médica de Família e Comunidade pela AMB - Associação Médica Brasileira (RQE 15.314 | CRM ES 15.515). Formada em Medicina pela Universidade Vila Velha (UVV), atua no cuidado integral de pessoas com Síndrome de Down. Possui formação em consultoria em amamentação, curso de cuidados ao longo da vida na Síndrome de Down pelo Hospital Albert Einstein (SP) e é pós-graduanda em Síndrome de Down pelo CEPEC/SP.

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